É uma justificativa injustificável o que eu faço. Porque eu
bebo. Porque eu fumo. Porque eu fico louca. Faço isso por que é divertido. É
certo e errado e eu não preciso escolher, não preciso esconder. Eu fico assim
por que é uma fuga os olhares, das conversas a portas fechadas, aos sussurros
que queimam na minha pele, uma fuga da classe média, as regras. É o cheiro
impregnado no meu corpo quando eu volto pra casa tarde ou de carona, de segunda
a segunda. O escudo do ataque acusador é você não saber pra onde esta olhando,
é o “boa noite” e o lanche que você prepara casualmente em silêncio enquanto a
tradicional matriarca passa a roupa e olha casualmente pra tv. Ela sabe. Ela não
sabe. Ela emudece. A tv fala e deus está na tv e na pergunta que ela se faz: “aonde
eu errei?”. Eu faço isso pra não mandar todo mundo se foder, parar de me tratar
como se eu fosse uma coisinha, a propriedade do ninho.
Eu faço isso porque aquele garoto me rejeitou, outro me
pegou e eu continuo me sentindo vazia e sóbria. Faço essas coisas tendo a ínfima
esperança de morrer uma hora dessas e saber quem ia sentir a minha falta e pra
onde eu iria, faço pra saber se eu sou uma boa escritora ou só uma daquelas
pseudo neurótica. Era pra jogar tudo pro alto e não ser ninguém, pra virar um
gato selvagem ou uma garota popular. Era pra arranhar aquele carinha lindo até
sair sangue. Todo mundo se pergunta “aonde foi que ela errou?” e comenta “eu nunca vou ser como ela” até o
primeiro gole queimar na garganta, até as risadas surgirem e a sensação de
liberdade seja mais real do que a pessoa sentada ao seu lado e você esquece por
completo o que ela esta te contando, é pra sorrir, acenar e rir bastante com a
ultima palavra da história “verdade” “né” “e você?” Apenas pra esquecer o quão
ruim foi aquela prova, o quão monótona é a vida, é a esperança de mudança. É
pra não pensar antes de dormir, é pro estomago esvaziar na privada durante a
quieta madrugada. É pra pensar que a ultima vez seria a ultima, e mesmo assim
fazer tudo outra vez.