23.8.13

Irmãzinha,

Eu queria que você sentisse. Liberdade. É verdade que mamãe diz que o cubiculo que eu moro mais parece uma jaula do que um lugar pra chamar de lar. Mas agora eu sei, esse mundo é o meu lar. Cada esquina, cada luz, cada neon. é meu. Como eu queria te mostrar, parece uma música dos Smith, a mesma sensação de entrar em outra galáxia, de achar poema em cada pessoa que eu encontro, de sentir que a cidade é vida. Um país onde a noite governa porque a tarde ninguém tem sentido. Eu sinto como se eu parecesse parte de uma constelação, fumando eu viro estrela cadente. Esse universo é divertido, num ônibus eu me sinto numa espacionave. tudo é muito longe. tudo é uma viagem. Irmãzinha, eu adoraria que você pudesse ver. A existência aqui é um porre,de dia eu sou uma astronauta, de noite eu sou um alien. A gente se inscreve na pele dos outros mas o sentimento sai rápido na proxima ducha. pois é. Eu me sinto flutuando. Eu gostaria que ..... você não viesse pra cá. Irmãzinha,seja estranha. seja uma estranha. apenas sinta. Arranja um lugar pra dormir,mas nunca durma. Deixe a tv ligada habitando um espaço que serve só pra você não ser mais um fantasma. seja um alien. Caramba,eu to escrevendo isso num lugar desconhecido,as vezes parece que as palavras se escrevem sozinhas. Eu te mostro tudo em polaroids. Querida, te mando um presente, poe uma música e coloca debaixo da lingua. Eu quero que você sinta.

Peace. Luv.

21.8.13

Antologia de Letícia










"Ta tudo muito curto e acumulado."

Senti a mudança
tão repentina como
algo que acende
aquilo que move
o ganho não só dói,
consome voraz 
o vazio pleno
chamando...
Quando foi que
o meu desejo
virou tua liberdade
E o meu medo 
te mostrou o caminho
Já não dá mais
pra parar de tremer
pois a hora mais sombria
vem com o silêncio
e três pontos
Ao sentir a mudança
não sou mais uma só

13.8.13

Stoker


A trilha perfeita da cena perfeita,suck it Hollywood,sensual sem nem precisar tirar roupas
http://www.youtube.com/watch?v=tuuxnziJJS4
Haviam dois irmãos
Um casal
O mais velho
A mais nova
e nada entre os dois
(                           )
só o vazio lá dentro
cada um que soubesse de sua tristeza 
que não podia ser aplacada 
por causa de uma lacuna criada muito antes deles
sequer existirem
ou pensassem nela
o sentimento que lhes faltavam
era aquilo que
um casal anterior 
esqueceu num corredor 
nas contas, no fundo de um copo
numa gaveta sem segredo
E o vicio da solidão
ocupa lugar numa namorada problemática
num escapismo caro
Isso se chama 
herança hereditária 
testamento e diário
promessas da boca pra fora
os irmãos imitam o casal 
justificando que nada podia ser diferente 
Mas porque então os olhos vidrados 
encontram o passado
ao invés do futuro
ou o presente
ou a herança
ou o divórcio
Nada pode ser diferente
dos planos divinos, espirituais 
O silêncio denuncia os culpados
que todos se ajoelhem
hora de pagar os pecados
e dizerem que aceitam

4.8.13

Sente e fique confortável,sinta-se livre pra tomar um gole de café ou acender um cigarro, eu não me importo. Eu na verdade estou me sentido esquisita de expor isso mas acredito que sendo uma pessoa curiosa e mente aberta isso não irá te incomodar.
Acho que quase todas as noites eu fico me perguntando: e agora? e em seguida abro uma página em branco e me distraio de proposito. É aquele velho truque de não pensar no assunto pra semear a responsabilidade ao vento, é coisa de babaca mas eu to meio desleixada mesmo. Descuidada eu perco uma parte importante das relações humanas e meus atrapalhados atentos me fazem repetir desde o começo sem nunca chegar no meio e muito menos no fim desse jogo. Me de uma dica de trapaça ou deixe que as linhas se estendam sem nunca anunciarem um vencedor, sempre mantendo a postura de um premio acumulado. Não que você entenda minha reserva porém torço que seja o bilhete dourado sobre essa sombra do anonimato e poderemos nos permitir uma troca equivalente e ouso dizer, até garanto satisfação. Basicamente preferi palavras a rostos só que nada mais preenche,nada mais mantem minha atenção,virei puramente literária e agora estou presa na minha inabilidade de ler rostos e corpos. Esta proposta é posta junto com umas cinzas e palmas meio suadas de nervosismo, falta um empurrãozinho então por favor me puxa.  

No mundo da lua


2.8.13

Antiga fábula

As folhas que são carregadas pela briza de um outono flutuam suaves fazendo seu caminho pra o jardim de uma solitária jovem, a luz que mal aparece atravessa por entre os vários lenços estendidos no varal, acendendo sua pele sobre um tom dourado. O rosto salpicado de pequenos pontos se vira para uma estrada deserta com tal ansiedade que mesmo que a poeira levante e seja lançada sobre o alto ela não desviaria o olhar.
Nesta pequena cabana no alto de um monte, sombreada apenas pelo que se resta das árvores haviam duas camas mas apenas uma era usada. Os pássaros orquestravam por toda a natureza e a dama passava seus dias entonando uma mesma triste canção enquanto sua vida se esvai no canto de seu sorriso melancólico. 
Ao passar-se o dia tão rapidamente, o pouco brilho de seus olhos acompanhava o sol no horizonte e o cintilar das estrelas que se erguiam. O fogo que estalava acalorava a pele branca e a mãos que costuravam mais lenços coloridos a serem estendidos na próxima vez, tão juntas estavam que formavam linhas e mais linhas de uma suplicia muda, uma reza e uma oferta. 
A jovem artesã sabia que o final estava próximo, a porta se abriu com um sopro gentil de quem aceitou o presente e com um longo suspiro a moça coloca seu lenço sobre a mesa, sorri e fecha os olhos. A cabana estava em paz.