23.12.13

Você escorre sobre meus dedos
quando eu escrevo sobre desejo
Sinto minha mente ficar vazia
o corpo estremesse
sou só mais um alguém
que corrompe tua imagem
Se teus olhos
se demoram sobre mim
e não houver jeito
de me expressar
engulo esse calor
num gole de cerveja
e culpo essa noite fria
Suspire no meu ouvindo
quando for se despedir
eu teria cem motivos pra ficar
sem vontade de voltar
Teu nome ta na boca dos meus amigos
Meu libido reside na tua pele
Sim, escrevi sobre ti,
de novo

22.12.13

Não é sobre amor
é a inquietação
se eu falo ou faço
tenho desculpa
ou é um capricho
ainda me confundo
e acabo sempre errando
Não é sobre amor
é essa solidão
de cama de solteiro
pra camuflar minhas faltas
sou capaz de lançar qualquer nome
desde que eu sinta algo
além dessa ansiedade
Nunca foi sobre amor
porque eu nunca tive sossego
nem as borboletas
só quis fazer dessa dor
um poema
eu nunca me curei do romance
Não pode ser sobre amor
se não é sobre mim

17.12.13

Coloco minha mochila nas costas
não me atrevo a olhar pra trás
depois de ter um diploma
o deixo pra empoeirar
eu sigo explorando 
o mistério do mundo me cativa
não existe graduação
pra um nômade
pra um louco 
para aquele que quer ser livre
Aos poucos
me liberto das correntes 
do passado
quero envelhecer com o sol na pele
com os calos que a estrada
faz sobre meus pés 
e ver tudo aquilo
que aquele que é formado 
vê apenas na tela do computador
Não se sinta sozinho sem mim 
pois te mandarei um postal
assim que arranjar alguns trocados
Não me procure
pois eu também estou tentando me encontrar
Quero ter a certeza 
de que num mundo tão grande 
é mais preciso ter conhecimento 
daquilo a minha volta 
do que de sentimentos egocêntricos 
dentro de mim 
Se eu não voltar 
pode apostar que é por que 
eu nunca precisei de faculdade
nem trabalho 
apenas paz interior.



9.12.13

Eu me escondo
na casa das flores
esperando pela luz do sol
tomar seu rumo
Sento sobre as folhas
sentindo o frescor
sobre minha pele nua
e se uma formiga
andar sobre meus dedos
não a tirarei
fazendo parte da natureza
sou menos eu
mais um pouco de tudo
nada permanente
Meu livro faz sombra
não ouso o tirar dos olhos
pois quero absorver a beleza
de pertencer a outro mundo
A casa das flores
não precisa de palavras
já que a madeira range
as folhas se arrastam sobre o chão
eu submerjo no fim profundo
do estado natural
Imagino noite após noite
tua volta
as cigarras me avisam
a mesa fica posta
Noite após noite
a única coisa
que invade a casa
é teu silêncio
pois tu não voltou daquela guerra
e na casa das flores
está tudo seco e cinzento
as folhas secas estalam
chegou o outono
mas tu não retornou a tempo

8.12.13

Pega uma cadeira e coloque um gole de café enquanto te conto a história da véspera de natal de 88.
Naquela época eu saia com um cara descolado,o apelido dele era Gus. acho. Ele apareceu na porta da minha casa no que parecia ser o natal mais frio dos últimos tempos. Eu atendi a porta usando um casaco surrado e pantufas, ele me beija e disse pra eu colocar mais um casaco. Eu disse: sinto muito,eu já tenho planos. Mas ele não houve, esta distraído brincando com o meu gato na cozinha. Eu penso, só uma volta, eu volto antes das nove, e vou pro quarto colocar uma roupa.
Ao entrar no carro Gus coloca um cd de músicas natalinas e dá a partida. Ficamos um tempo em silêncio até que ele respira fundo e começa a falar que sentia muito pelo que tinha acontecido na semana anterior, dessa vez eu que finjo que não escuto e olho pros pequenos pontos brancos começando a cair. Gus tinha muitos defeitos e eu amava cada pequena falha achando que apenas eu detinha o poder de mudá-lo. Meus sonhos adolescentes pareciam tão... viáveis.
Nos dirigimos até o pico de um morro que costumávamos ir e lá ficamos ouvindo aquelas estupidas canções e eu estava cada vez com menos paciência para o que quer que ele tivesse planejando. Gus, nós temos que... e ele me beija e com a ponta da lingua passa algo com um gosto amargo. Ele diz pra não engolir e nisso começamos uma longa discussão com palavras cada vez mais aleatórias e insultos cada vez mais vagos. A neve começa a parecer algodão caindo,o frio é uma sensação distante e tudo o que posso pensar no momento é que o amor é o suficiente. Ele tirou a luva de uma das mãos e a apertou contra a minha, eu podia jurar que nossas mão derretiam e viravam uma. Gus nunca teve palavras bonitas pra me dizer, mas naquele momento jurei que as sentia em seus olhos,nas suas pupias dilatadas e sua respiração alta.
Quase congelamos aquela noite, onde tudo parecia real e as músicas natalinas viraram melodias românticas.
Gus e eu ficamos juntos até o primeiro do ano.
A panca ainda dá sinais de vez em quando.

5.12.13

Sigo uma voz
que aponta pra lugar nenhum
mas me leva  ao profundo
dos meus próprios desejos
Me consome de vontade
acaricia-me os braços
ressoa meu suspiro 
fico perdida nos cabelos
daquele que me chama
Prometo baixo 
e que o encanto não se desfaça 
depois que tiver você
tão perto, tão forte 
Juro que não é por mal
se eu bebo várias doses
se eu fumo demais 
porque isso de sentir amor
me enerva 
não to acostumada 
ao um blues menos feliz que eu
Se te sigo 
na real não tem mais desculpa
to aceitando carona
sem rumo definido 
e que paremos apenas na rua da minha casa